Um cordel desencantado
Nordeste

Um cordel desencantado


Vem à mente um cordel indignado
Quando leio os folhetos de hoje em dia
Um cordel que lembrasse a poesia
Dum Leandro de Barros encantado
Patativa a dizer muito obrigado
E os dois lá no céu a gargalhar
Mas o tema teimava em não chegar
O poema ficou no pensamento
Solto então esses versos num lamento
Para quem entender me escutar.

Falta cheiro de gente do sertão
Em alguns dos poetas de vocês
Fazer verso ao gosto do freguês
Assassina pra sempre a tradição
É melhor acabar com a ilusão
Ser poeta é um caso diferente
É o verso a dançar em sua mente
Mas só sai do juízo lapidado
É difícil encontrar um pé quebrado
Se te miras nos Mestres do Repente.

Ser poeta também é aplaudir
Escutar o poema de alguém
Atitude sensata que convém
Caminhar não é sempre o ter que ir
Se aprende às vezes se sair
Duma trilha por certo enganadora
Lavrador na escolha da lavoura
Pensa bem no que pode ser colhido
Seu trabalho será reconhecido
A colheita pra sempre duradoura.

Um vizinho planta milho num roçado
Na ribeira outro escolhe o algodão
É melhor que tu plantes teu feijão
Esse ciclo da vida contemplado
Saberás entender esse recado
Vais jogar a semente mulatinha
E verás na manhã ou à tardinha
Que cumpristes na vida uma missão
Não fizestes um verso ou oração
Mas plantasse um grão que não definha.

Poesia é algo marginal
Nesse mundo é difícil ser poeta
Se caminhas na busca dessa meta
Fica atento ao conselho visceral
Vais buscar lá no fundo do bornal
A palavra pra sempre escondida
Pelas heras resta só e esquecida
Só os loucos navegam nessa trilha
Alguns poucos fazem parte da quadrilha
Do pensar nessa vida tão bandida.

Rima fácil ficou pra quem não pensa
Só rimar não se chega à poesia
Tem a noite, madrugada e tem o dia
Não receba o conselho como ofensa
Guarda ele na mente e na despensa
Poderás desse mote precisar
Se te perdes ele pode te encontrar
Se no gen um poeta tu carregas
Faça uso do verso e te entregas
Na vereda e ao dom de versejar.

Pensa bem numa cerca na savana
Separando o vaqueiro da boiada
O aboio na tarde é a toada
Do vaqueiro na lida da campana
Dia longo maior que a semana
Com seu canto a buscar o boi fujão
Derrubou o arame e o mourão
Mas se volta pro canto salvador
É assim o poeta em seu labor
A mostrar seu poema pro irmão.

Se existem poetas nessa vida
Poesia pra uns é a missão
Camponês faz poema com a mão
Deixa trilha no mundo a ser seguida
Trabalhando o roçado em sua lida
Um exemplo pra toda humanidade
Todo dia lhe peço essa bondade
Plante o milho, feijão e algodão
Colho tudo e componho uma canção
Não me tire a fugaz felicidade!

Alberto Oliveira

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