Transfiguração "popular"
Nordeste

Transfiguração "popular"


No Encontro dos Mestres, o termo “cultura popular” ganha outras definições, mais abrangentes

A voz do povo é a da diversidade. E se nenhum povo é igual e “cultura popular” é muito mais do que os rótulos que lhe apregoam, está decretado o direito de reinventar o “popular” sempre que a espontaneidade bater à porta. Essa é a receita do reisado da Mestra Gerta, da Caninha Verde do Mucuripe, ou do Cordel do Fogo Encantado, “de Pernambuco para o mundo”. No III Encontro Mestres do Mundo, em Limoeiro do Norte, a comunidade espectadora experimenta - mesmo muitas vezes sem entender - outras faces de nordestinidade. Lentamente reconstrói os significados do “popular”, que este não é imutável, mas universal, antigo, moderno e contemporâneo. Ao final, máscaras caem, rótulos desenrolam-se e amplia-se em vivências “pop” a cultura popular.

Depois que inventaram que o nordeste é só seca, sol, terra de cangaceiro (ontem), pistoleiro (hoje), e sua cultura é “só” o reisado, a poesia de rima popular, música para ciranda de roda dos nossos avós - com todo respeito -, tudo que não se encaixe em algum desses rótulos provavelmente sofrerá a dúvida do outro quanto à sua identidade. Pois quando os rapazes do Cordel do Fogo Encantado subiram ao palco, muitos espectadores cantaram com vibração, mas muitos outros reagiram com estupefação: “Esse povo é doido, isso não tem nada de cultura popular. Falaram em cordel, eu pensei que era em ritmo de cantoria”, afirmou uma “curiosa” participante do Encontro dos Mestres.

“Depois que historicamente foi criado o rótulo sobre o qual foram se evidenciando as manifestações folclóricas nordestinas, o que pareça diferente daquilo não tem o crédito - ou tem depois de muita resistência - de que também se trata de uma manifestação popular nordestina. E é justamente os rótulos de ‘merda’ que pretendemos desconstruir. Somos jovens com a mesma sede de expressão de jovens de qualquer parte do mundo”, desabafa Paes de Lira (voz e pandeiro), do Cordel do fogo encantado, de Pernambuco, que neste ano comemora 10 anos de formação. O grupo nasceu do teatro, ganhou ares circenses e com isso correu o mundo. O primeiro disco foi “Cordel do Fogo Encantado” (2001), seguido de “O Palhaço do Circo sem Futuro”(2003). Até aí, muito mais teatro misturado à dinâmica sonora de voz, violão, pandeiro e percussão. Até que veio o terceiro disco, “Transfiguração” (2006), que seguiu o caminho inverso dos outros e começou no estúdio, “para mostrar que não somos somente pesquisadores da cultura popular, mas principalmente um grupo musical”, conta Paes de Lira.

O “Cordel...” é uma banda musical nordestina de raiz, embora com canções de letras modernas, mas que carregam a mesma “atitude” de um Patativa: “Juntem as forças pra seguir nessa jornada/Busquem as forças pra lutar na sua própria batalha/A poeira subiu de ambos os lados/Arames farpados olhos e punhos fechados cerrados/A face marcada pela mesma vida seca como a terra rachada/Uma sombra densa e pesada eclipsando o que há de melhor na sua alma/O verdadeiro terror mais sufocante que o calor/Essa é a sua jaula/Os desertos se encontram de várias formas/Seja no espírito no solo ou na mente através de idéias tortas/Que produzem gente morta em escala industrial.”

“Não importa se é do campo, da cidade, fácil ou difícil de compreender, se tiver de mudar alguma coisa pra ficar melhor... Desde que não seja nada forçado, por que não fazer?”, explica Mestre Gerta, da Caninha Verde do Mucuripe, dança folclórica que herdou de sua mãe, passa para filhos, netos e bisnetos, deixando claro que algumas coisas já foram transformadas no grupo pela transmissão de saberes.

A mestre Dina, vaqueira de Canindé, não é nem um pouco chegada ao rock’n’roll, mas no Encontro dançou no show de Khalil Gibran, que homenageou de Patativa a Messias Holanda, de “Meu limão, meu limoeiro´ a “Eu quero me trepar num pé de coco...”. Com arranjos criativos e ousados, o músico metaliza o folclórico e, ao mesmo tempo, colabora para a desconstrução do hermetismo, ou melhor, preconceito do “ser popular”.

MELQUÍADES JUNIOR
http://www.diariodonordeste.globo.com




loading...

- Nova Edição - Para Rir Até Chorar Com A Cultura Popular
Este livro busca a essência da mais pura poesia popular. E decifra suas mais diversas formas de composições. Foi com essa intenção que o autor desta obra fez um estudo e descreveu em mais de 300 páginas os mais variados ramos...

- Encontro Com Poetas Populares E Rodas De Cantoria
O objetivo deste encontro é contemplar produções voltadas à literatura de cordel, que desempenha o papel de refletir problemas populares e as suas contradições estruturais, circulando assim como elemento de ligação entre diversos grupos sociais....

- Conheça O Balé Popular Do Papangú
Em Papangu, O Balé Popular toma como ponto de partida a riqueza histórico-cultural incorporada ao personagem, convidando o público a uma viagem a controversa, e possivelmente sagrada, origem dessa figura mascarada. Ingressos: R$5,00 + 1 quilo de alimento...

- Rastapé No Sertão
“Olê muié rendeira, Olê muié rendá, Tu me ensina a fazê renda Que eu te ensino a namorá” A musicalidade sempre esteve muito presente na cultura e na história do nordeste. Zé do Norte quando compôs "Mulher Rendeira", atribuiu a Virgulino...

- Para Rir Até Chorar...
Por Jaquilane Medeiros Já nas livrarias Prefácio Livros, Sebo Cultural, Livraria do Luiz, Almeida Livraria e na Casa do Livro, a obra literária “Para rir até chorar com a cultura popular” do escritor e pesquisador Marcos França. Fruto de uma...



Nordeste








.