João Bolinha, um peixe grande
Nordeste

João Bolinha, um peixe grande


Por Glauber Lacerda

M
aiquinique é um pequeno município do interior da Bahia. A cidade tem esse nome por conta do rio homônomo que a corta. A origem da palavra é indígena e significa “rio de peixes pequenos”. Hoje, o estreito leito tem pouca e poluída água no trecho próximo ao perímetro urbano. Quem não conhece a paisagem, dificilmente imagina que há 30 anos por ali passou um peixe grande que resolveu morar na terra e até hoje não quis voltar a nadar. O peixe é poeta, o poeta João Bolinha.


João Pereira da Silva, nome de registro dele, nasceu e despertou para as letras em Condeúba (BA). Assim como Patativa de Assaré, foi alfabetizado através do curso primário de Felisberto de Carvalho (1850-1898), autor de livros didáticos que deixou marcas na educação brasileira desde o período de transição entre a monarquia e a república até meados do século XX. Ainda menino, descobriu a paixão por Castro Alves e a vocação pela liberdade.


Com uma Rosa-dos-ventos, adornando o bolso do seu paletó, propagou versos por todos os cantos. Em Itambé (BA), ouviram-no muitas vezes. Em Montes Claros (MG), dedicou-se ao ofício de barbeiro. Quem pagava por barba, cabelo e bigode, ganhava um recital de brinde. Lá, Darcy Ribeiro se tornou seu cliente cativo. Outro fato marcante na cidade do norte de Minas foi uma valsa dançada por Juscelino Kubitschek, assistida por Bolinha. Ele jamais se esqueceu dos dotes de dançarino do presidente. Encontrou JK, anos depois em Brasília, e não resistiu, pegou na mão do mandatário e disse:
- O Senhor é um grande valsista!

Brasília, os homens e a cabeça
Maiquinique: a derradeira parada


Abaixo, duas poesias declamadas por João Bolinha. A primeira, "Eu e um punhado de versos", é do próprio poeta; a segunda, "O Tédio" é de Henrique Hine (clique e veja o texto).

Eu e um punhado de versos
- João Bolinha


O Tédio -
Henrique Hine


Glauber Lacerda é jornalista. Nasceu em Itapetinga e foi criado em Maiquinique e Vitória da Conquista, tudo isso é na Bahia. Um "Fi" de Zé, de alma e cartório.
O conheci a pouco tempo pela blogosfera e achei a proposta de seu blog, "Fi de Zé", fantástica. Apesar de ter começado a pouco tempo, seu blog já nasceu grande. Quem é bom torna-se logo parceiro do Cultura Nordestina.



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