No reino de Ariano, delírios e alegorias visuais extravagantes
Nordeste

No reino de Ariano, delírios e alegorias visuais extravagantes



Ao reconhecer, publicamente, “A Pedra do Reino” (livro editado em 1971) como sendo seu trabalho preferido, Ariano Suassuna também confirma, a partir dele, outros reais significados de conteúdo e forma utilizados na sua obra, como um todo. O apuro alegórico, que gera um realismo fantástico, caricato, permeiam situações e personagens que cria, a exemplo de Quaderna, no seu imaginário e delirante reino de pedra.

Um fantástico e alegórico típicos da Literatura de Cordel, que, segundo ainda Ariano, transcenderia ao próprio regionalismo nordestino. Regionalismo, que, sem embargo algum, sempre esteve presente na sua abordagem, conferindo-lhe, inclusive, um traço autobiográfico, de certo modo "palhaço", aqui, acolá, manifestado através de seus personagens de características circenses.

Tomando-se como parâmetro de avaliação o comportamento, digamos autoral, por parte de alguns de seus personagens, gostaria de lembra a figura do cangaceiro Severino de “O Auto da Compadecida”. Nele, independentemente da sua tenebrosa aparência, existe o sertanejo muitas vezes ingênuo e cheio de dúvidas, para quem o rifle representa, apenas, um instrumento de autodefesa.

Quem se recorda de “Uma Mulher Vestida de Sol”, também miniseriado pela Globo, há de lembrar do personagem “duro”, não afável, vivido por Raul Cortez. Símbolo do patriacardo do Nordeste. São figuras que deixam transparecer no seu íntimo, não apenas na sua aparência física, a desconfiança, a rudeza de caráter, ao mesmo tempo, sensibilidade no trato hilário com determinadas situações de vida.

Na Pedra do Reino, a valorização do imaginário social está presente com todas as letras. Pedro Diniz Quaderna, personagem-condutor de toda a narrativa, ostenta a figura do palhaço que narra sua estória de vida e de descendência de Dom Sebastião, Rei de Portugal, na época da colonização do Brasil. Ele é parte de uma “trupe”, que percorre estradas e povoados do Sertão, maximizando situações e gestos do nosso povo, tudo sob a ótica do sagrado e do profano, próprios do estilo Armorial de Ariano.

Desse universo fantasioso do paraibano Ariano Suassuna, ficam os destaques para o solo que o viu crescer, Taperoá, (enquanto “Remake e Cidade Cenográfica de Sansaruê”, filmes que realizei em 1995) e para a admirável capacidade de atuação dos também nossos Everaldo Pontes, Marcélia Cartaxo e Luiz Carlos Vasconcelos, entre outros. Um agravo, apenas, à qualidade técnica das imagens reproduzidas pela TV. Refiro-me à qualidade; não à forma/estética como as imagens foram dirigidas por Luiz Fernando Carvalho. Sem contar o extravagante “delírio” visual que nos proporcionou, sobretudo, o primeiro capítulo.

Finalizando – agora de volta ao mundo real –, quero também render homenagem a um dos maiores escritores paraibanos vivos, Ariano Suassuna. Que a Parahyba, em toda sua grandeza histórica, cultural e artística, continue sendo refletida através do “espelho de cristal”, este, que sempre foi o elo de ligação do autor com o mito, com o seu fantástico Armorial e a nossa realidade.

ALEX SANTOS
[email protected]
http://www.ancomarcio.com



loading...

- Obra De Ariano Suassuna Transforma-se Em Escultura Em João Pessoa
(Matéria JPB) O Parque Solon de Lucena, um dos mais conhecidos cartões postais de João Pessoa, ganha um monumento em homenagem à cultura nordestina. É uma escultura em formato de 'totem', pensada e reproduzida pelo artista visual Miguel...

- Uma Ode Ao Recife
Uma ode ao Recife (Walmar Coelho) Recife de luzes, De luzes e cores, De cores e vida, De vida e amores I Recife das fontes, Dos rios, das pontes. Os teus horizontes São belos demais. II Recife que canta, Seus males espanta, Do galo que encanta Nos seus...

- Cidadão Ariano
O escritor, dramaturgo e pesquisador Ariano Suassuna recebe hoje, na Assembléia Legislativa, o título de cidadão cearense. Nascido aqui em João Pessoa quando a atual capital paraibana ainda se chamava Nossa Senhora das neves, o escritor, dramaturgo...

- Cultura Brasileira é Resultado Da Miscigenação De Três Povos
A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez num artigo do arqueólogo William John Thoms, publicado no jornal londrino "O Ateneu", em 22 de agosto de 1846 (por isso 22 de agosto é o dia do folclore). Ela é formada pelos termos de origem saxônica:...

- Ariano Suassuna - Biografia
Ariano nasceu em João Pessoa, na capital da Paraíba (Parahyba em ortografia arcaica), num dia de Corpus Christi, o que acabou por ocasionar a parada de uma procissão que ocorrera no dia de seu nascimento na frente do palácio do governo do estado....



Nordeste








.